Minha cabeça estava meio zonza. Processar tantas novidades de uma só vez deixara-me tonto. Fui até a cozinha, tomei dois copos d’água e me sentei em uma das quatro cadeiras sem pernas, de encostos e assentos supermacios, que flutuavam ao lado de uma mesa oval, também flutuante. RC, sem sair da sala, me disse, com voz paternal: — Você precisa descansar, Erik. Seus batimentos cardíacos estão alterados e você está com os olhos pesados de sono. — Que nada, RC, só vou descansar minhas pernas por alguns minutos. — Tome um banho e durma, amanhã continuamos a vistoria! — Não, RC, já estou melhorando — eu disse. Depois de uns cinco minutos, levantei-me e fui até a sala. — Vamos, RC, mostre-me essa beldade... Ao sairmos do aposento, a porta se fechou automática e silenciosamente. Caminhamos uns cem metros e paramos em frente a uma parede. RC, medindo-me com o olhar, de cima a baixo, disse: — Ela vai lhe cair como uma luva, Erik, pois você tem o mesmo corpo e a mesma altura do Príncipe Oten: 1,83 metros. — O que é “ela”?... Sem responder-me RC dobrou o braço esquerdo, posicionando-o à frente do corpo e o seu antebraço se abriu, deixando à mostra um painel com vários símbolos. Ele apertou alguns ícones no painel — certamente uma senha — e a parede à nossa frente se abriu. Era outro elevador. Entramos, e ele ordenou: “Terceiro plano.” Quando o elevador parou, descemos em um setor onde havia vários computadores desligados e apenas um funcionando, algumas peças estranhas e muitos componentes eletrônicos espalhados pelas bancadas. — Aqui ficam o laboratório de robótica, a usina geotérmica e a bomba elevatória de água. — Essa bomba fornece água para os planos superiores, certo?... — eu perguntei, quase afirmando. — Certo. Mas além disso, a bomba abastece a usina geotérmica e eleva a água do aquífero até o topo da montanha, formando um riacho. As águas correm mansamente e caem, em cachoeira, naquele poço por onde você entrou na montanha — ele disse. Caminhamos alguns metros e RC parou diante de uma câmara de vidro que protegia uma armadura, parecida com a que ele usava. E, antevendo minha pergunta, explicou: — Essa armadura é o que de mais moderno existe na tecnologia cetroniana, Erik — e me olhou. Como eu não disse nada, voltou-se e enfiou um dedo, como se fosse uma chave, numa abertura da câmara, e esta se abriu. — O que achou do estilo, Erik? — O estilo é meio conservador; agora... a armadura é linda. Linda, imponente, misteriosa... — Esta armadura foi projetada e construída para ser usada pelo Príncipe Oten, que viria conosco na expedição. — E por que ele não veio?... — Na última hora, o Rei ordenou que seu filho ficasse em Cetro, alegando que precisaria de sua ajuda para reinar mais tranquilo. — O Rei estava certo, RC. Separar-se de um filho é muito dolorido, seja qual for o motivo... — Quando a nave-mãe partiu de Cetro, rumo ao espaço, esqueceram de retirar a armadura. Agora vamos fazer um bom uso dela, pois você vai usá-la para me ajudar a salvar o seu planeta. — Eu vou usar esta armadura, RC?... — Sim, Erik, esta imponência agora pertence a você. — Obrigado, RC? Mas... o que esta belezura é capaz de fazer? — Eu vou lhe explicar, com detalhes, tudo que eu sei sobre ela. Depois, é você entrar na armadura e descobrir as suas várias utilidades. — Não sei, não, estou com medo de usá-la... Ela parece que pesa 500 quilos, como você. — Nem tanto, Erik. Ela é mais moderna do que esta lata velha aqui. Pesa cinco vezes menos e é mais poderosa do que eu. — Mesmo assim, não vou suportar todo esse peso. — Não é você que vai carregá-la, é ela que vai carregar você. Além disso, quando você a estiver usando, conseguirá levantar o peso de até uma tonelada, dar grandes saltos em distância e altura e correr velozmente, como eu. — Quantos quilômetros por hora conseguirei atingir quando eu estiver usando essa armadura? — Teoricamente, quatrocentos quilômetros por hora... Ele começou a falar e não parou mais. Foram três horas de instruções, precauções, comandos, teclas, códigos e tantos outros detalhes sobre a armadura. Finalmente ele me disse: — Agora, Erik, é com você. Entre na armadura e comece a pôr em prática os ensinamentos que eu lhe transmiti. Cheguei mais perto da armadura e fiquei admirando-a. Abri um compartimento no seu lado esquerdo, na altura do peito, e apertei a tecla dourada. A armadura se abriu e eu me encaixei perfeitamente em suas formas. Apertei a tecla marrom, ao lado da dourada, e a armadura se fechou sobre mim. — Lembre-se, Erik, que é só você pensar que as fibras óticas da máscara, em contato com as suas têmporas, captam os impulsos elétricos de seu cérebro e enviam sua ordem mental à memória central da armadura. — Se eu não sei falar e, óbvio, nem pensar em cetronês, como é que a memória central desta armadura cetroniana vai entender e fazer o que eu ordenar? — Depois que eu fiquei sozinho... ou, melhor dizendo, que eu fui abandonado aqui, eu sempre pensei em encontrar algum ser humano que utilizasse essa armadura e que pudesse dividir comigo a responsabilidade de fazer a vistoria e a manutenção do laboratório. Então desenvolvi e acoplei à sua memória central um tradutor de todas as línguas que eu aprendi aqui na Terra para o cetronês. Se você apenas pensar “ande”, ela começará a andar. Eu não disse nada. Estava nervoso. RC incentivou-me: — Tente andar, Erik... Assim eu pensei: “Ande.” E comecei a andar... Andar, correr, trombar, pular, cair, levantar... Quebrei uma das grandes telas de computador; amassei uma parede, que certamente era de giônio; porém, em cinco dias eu já estava dominando aquela fera mecânica.
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